sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Desigualdade brutal, 51 mil assassinatos, educação péssima... e o brasileiro é feliz!

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Para se alterar uma realidade faz-se necessário, antes de tudo, assumi-la e, então, enfrentá-la. Contudo, na percepção dos brasileiros, nossa realidade pode ser equiparada à dos países europeus mais desenvolvidos. Basta haver um pequeno avanço em qualquer segmento, que todas as graves deficiências são esquecidas. É impressionante como nossa desigualdade (brutal) fica escondida debaixo dos tapetes.
Todo esse otimismo se reflete em boa parte nas pesquisas de opinião/percepção envolvendo a população brasileira.
Na pesquisa Retratos da População Brasileira, realizada pelo CNI-IBOPE, por exemplo, na qual 2.002 pessoas foram entrevistadas, a educação foi a 4ª indicada (por apenas 27%) dentre os principais problemas enfrentados pelo país. A fome e a miséria ficaram 7º lugar (8% dos ouvidos) e a habitação em 11º (eleita por 3% do total).
Já no tocante à percepção de bem-estar avaliada pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2011, a média de satisfação geral do brasileiro com sua vida é de 6,8 (numa análise de 0 a 10), próxima à dos belgas (6,9), alemães (6,7) e noruegueses (7,9).
O Índice de Desenvolvimento Humano brasileiro em 2011 do Brasil foi de 0,718, deixando-o na 84ª colocação mundial, uma acima da do ano passado, mantendo-se entre os países com IDH elevado (entre a 48ª e 94ª colocações). Porém, não há o que comemorar.
O Desenvolvimento Humano de cada país é calculado por meio de um índice que varia de 0 a 1, no qual são consideradas três dimensões: uma vida longa e saudável; o conhecimento e um padrão de vida digno, analisando-se, portanto, a situação da saúde, da educação e da distribuição renda daquele país.


A posição geral do Brasil é baseada em uma média de todos os estados, de forma que os estados bem desenvolvidos compensam as deficiências dos menos desenvolvidos.
Todavia, quando é levada em consideração a desigualdade social (distribuição de renda) de cada país, cria-se um novo índice, denominado IDHD (Índice de Desenvolvimento Humano ajustado à Desigualdade). Nesse indicador o Brasil alcançou apenas a nota 0,519, caindo 13 posições (uma queda global de 27,7%).
Assim, o país ficou abaixo de países como o Uzbequistão (0,544) e a Jordânia (0,565), por exemplo, que são mais pobres, mas menos desiguais.
Conclui-se então, que além de ser o 6º país mais violento do mundo, o 3º que mais mata no trânsito, o país da impunidade, o 84º colocado em índice de desenvolvimento humano, a desigualdade do Brasil supera a de países ainda mais pobres.
Contudo, para a maioria de sua população, a sensação é a de viver em um país desenvolvido, exemplar, igualitário, abastecido; superando, inclusive a percepção de países cujo IDH foi muito elevado, como a Alemanha (0,905).
Contradição que é fruto do conformismo, da complacência, da "memória curta" que tristemente permitem que se fechem os olhos para os delicados problemas do país. Vive-se de sonho, de autoengano, de ideal, para se mascarar a realidade e eximir-se da responsabilidade que a cada um cabe de lutar pela mudança, pela melhora, pela evolução. 
O país que se almeja depende da forma como é visto. A desigualdade, a miséria, a marginalização está escondida, está debaixo dos tapetes. É impressionante a invisibilidade da desigualdade socioeconômica. Somos desiguais, com baixo índice de escolaridade, mais de 50 mil assassinatos por ano etc. e "felizes"! 
 


Seria um caso de profunda alienação? 
Cuidado: o alienado ali é nada!

 


Autores
Diretor geral dos cursos de Especialização TeleVirtuais da LFG. Doutor em Direito Penal pela Faculdade de Direito da Universidade Complutense de Madri (2001). Mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo USP (1989). Professor de Direito Penal e Processo Penal em vários cursos de Pós-Graduação no Brasil e no exterior, dentre eles da Facultad de Derecho de la Universidad Austral, Buenos Aires, Argentina. Professor Honorário da Faculdade de Direito da Universidad Católica de Santa Maria, Arequipa, Peru. Promotor de Justiça em São Paulo (1980-1983). Juiz de Direito em São Paulo (1983-1998). Advogado (1999-2001). Individual expert observer do X Congresso da ONU, em Viena (2000). Membro e Consultor da Delegação brasileira no 10º Período de Sessões da Comissão de Prevenção do Crime e Justiça Penal da ONU, em Viena (2001).

Advogada e Pesquisadora do Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes

Como citar este texto: NBR 6023:2002 ABNT

GOMES, Luiz Flávio; BUNDUKY, Mariana Cury. Desigualdade brutal, 51 mil assassinatos, educação péssima... e o brasileiro é feliz!. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 3059, 16 nov. 2011. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/20429>. Acesso em: 17 nov. 2011. 


SUGESTÃO DE VÍDEO: 
http://www.youtube.com/watch?v=KAzhAXjUG28

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