quarta-feira, 15 de agosto de 2012


Numa sociedade que diz o mundo em 140 caracteres, desculpem-me, mas Fiódor Dostoiévski, ainda tem lugar. Numa sociedade, em tempos de mensalão, entorpecida por lugares comuns e desejos de morte moral ao Outro, perdoem-me, “Crime e Castigo” escarra nas nossas consciências.



Num tempo onde se reúnem advogados para “estudarem” modos “jurídicos” de amordaçar a mídia no uso da expressão Mensalão, não há outra alternativa senão trazer da tumba a velha usurária Aliena Ivánovna, morta por um estudante  que, por julgar matar um “piolho”, não se admite criminoso.



Rodion Románovitch Raskólinkov toma os grandes criminosos da história — e a Napoleão Bonaparte dá essa condição -, e suas respectivas absolvições pela sociedade, e resolve, para si, matando, absolver-se e desvencilhar-se da opressão posta por uma sociedade real e usurária.


Para Dostoiévski, na medida em que a nobreza russa perde a condição moral mínima, transforma-se em burguesia e toma para si os modos de organização social que oprime e (para) tolera(r) práticas criminosas.


Napoleão, ao sedimentar a “sociedade burguesa”, navega por “um mar de sangue” e, como referência macroestrutural, organizadora da “nova sociedade”, erige o sistema bancário, usurário, por definição. Apesar do “mar de sangue” e dos crimes cometidos, Napoleão foi absolvido pela sociedade burguesa. Raskólinkov, explorado pela agiota Ivanóvna, mata a velha e, já que ela é a referência microestrutural desta mesma sociedade que absolveu Napoleão, por ela será absolvido, ou por outra, nada há de absolvição a pedir, pois, matara um piolho e matar “piolho”  não é crime. Em que pese a culpa carregada por, inadvertidamente, ter assassinado Lisavieta, irmã da Agiota, jamais admitirá qualquer crime.



Vivemos mais um momento de “Crime e Castigo” onde os homens julgados são convictos plenos de que não cometeram qualquer crime, não assassinaram nada, como diz Dostoiévski, somente princípios foram mortos neste processo de putrefação moral que elege uma nova classe de dirigentes. Para eles não somos nada além de “piolhos”, expressões de uma microestrutura que, cotidianamente, absolve “napoleões”, burguesias e novas classes senhoriais.
No Mensalão há crime, no mensalão há despudor, no mensalão há nomes e endereços e interesses destinados à reorganização macroestrutural da sociedade; penas?


Quem são os criminosos? Quais serão os castigos? Não sei.

Princípios ou pessoas? Piolhos ou gentes? O certo é que padecemos. Todos nós.


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