quinta-feira, 25 de novembro de 2010

OS ROMANOS PODEM VOLTAR

Frente de Trabalho - Edição 59                  
Por: Nelson Moschetti

Em 281 a.C., Pirro, Rei de Epiro, pretendia conquistar Roma, o Perigo do Ocidente, da mesma maneira que Alexandre conquistara a Pérsia, o perigo do Oriente. Para perseguir esse intento, atravessou o Mar Jônio (Adriático) com um exército considerável, composto de 25 mil homens de infantaria, 3 mil de cavalaria e 20 elefantes.

Derrotou os romanos em Heracléia, sofrendo, no entanto, perdas enormes em homens e material. Quando Pirro recebeu de um oficial o cumprimento pelo triunfo, respondeu: "Mais uma vitória como essa e estarei arruinado". Essa é a origem histórica da expressão “Vitória de Pirro”, que nos fornece a oportunidade de reflexão e analogias.

Na esfera familiar, os conflitos geralmente estão longe de uma situação de guerra, surgindo naturalmente do relacionamento entre os seus membros – onde muitas vezes as energias são mobilizadas para verificar qual vontade prevalecerá. Nas empresas, comumente assistimos às batalhas travadas entre duas áreas, em meio a um clima predatório, onde o sucesso de uma área implica no fracasso da outra.

Recursos e resultados
No campo das relações capital x trabalho, há ocorrência de dificuldades, praticamente insuperáveis, quando os representantes das partes adotam premissas comportamentais rígidas, tais como: “não podemos tolerar que...”, “não negociamos sob pressão...”, “não sou homem do voltar atrás...”. Em todas essas situações, as partes envolvidas deixam de atentar para a adequação entre a quantidade dos recursos empregados e os resultados obtidos. E o que é mais grave: não analisam as seqüelas do dia seguinte. Seguramente, marido e mulher, pai e filho, chefe e subordinado, líder sindical e representante patronal terão outras situações de conflito para serem gerenciadas no futuro.

Muitos consideram que a Segunda Guerra Mundial foi a última batalha da Primeira Guerra. O Tratado de Versalles, que após a Primeira Guerra impôs duras condições aos vencidos, acabou propiciando o clima para o surgimento do Nazismo e, conseqüentemente, da Segunda Guerra.

É possível fugir da dicotomia vencedores-vencidos. Para tanto, as incompatibilidades devem deslocar-se das pessoas ou grupos para o conteúdo do conflito. Em outras palavras: há um problema comum a ser solucionado e não um “Braço de Ferro” que implica, necessariamente, a imposição da vontade de um dos contendores sobre o outro.

Nessa postura (Braço de Ferro), o que fica subjacente é a idéia rígida de ir até o fim, custe o que custar. Paralelamente à solução centrada no problema e não nas pessoas, vale a pena um exercício de reflexão sobre o nosso comportamento na administração de conflito, em situações concretas.

Conflito bem administrado
Essas vivências são excelentes pistas para percebermos a importância dos sentimentos que são gerados tanto em nós quanto na outra parte. Eles podem tornar difícil o relacionamento futuro entre as partes, se os ressentimentos criados não forem superados. Um possível conflito futuro já terá uma espoleta previamente instalada.

Para perceber como estamos saindo de um conflito, podemos nos perguntar: Como estou ao final dessa negociação? Qual é o sentimento? Alegria? Frustração? Raiva? Felicidade? Devemos ainda procurar imaginar como a outra parte está sentindo. Quais os sentimentos presentes. As respostas podem medir a efetividade da nossa competência em gerenciar conflitos sem plantar uma guerra para a próxima vez.

É a forma de libertar-nos da miopia do curto prazo em direção a um clima de parceria entre as partes. Retomemos à História Antiga. Nove anos após a vitória de Pirro em Heracléia, os gregos foram subjugados pelos romanos. Começava, dessa maneira, o crescimento do Império Romano.

Assim como na guerra, a maioria das batalhas do dia-a-dia não é definitiva. Voltamos a nos defrontar, geralmente, com os mesmos “adversários”. Uma “Vitória de Pirro” sobre nossos filhos, nossos clientes ou outras áreas da empresa, não é a última batalha, pois os “Romanos podem voltar...”

Nelson Moschetti é advogado, sociólogo e diretor de RH da RCS Consultores

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