quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO NA ERA DAS INVERSÕES



A saúde deixou de ser algo responsável pelo bem-estar da pessoa para ser uma questão de qualidade de mão-de-obra. Vê-se em pequenas notas de jornais o desmantelamento dos sistemas de saúde. Hospitais públicos que ainda permanecem abertos, resumem-se a grandes ambulatórios destinados a manter – em alguma medida – pessoas vivas. 


O mesmo acontece com a educação e com a cultura, sendo que as escolas públicas perdem qualquer sentido educacional, concentrando-se meramente na formação das pessoas rumo a um mercado de trabalho incerto, tanto qualitativa quanto quantitativamente.

A função da educação, particularmente pública, na formação de cidadãos é prepara-los para terem na cultura um valor, escolherem as melhores obras e valores produzidos pela nossa cultura com uso da razão, sendo capaz de pôr à prova as coisas, de demonstrar proposições, de afastar-se daquilo que se apresenta como dado ou natural. Ter capacidade de crítica, de usar proposições e, portanto, de elaborar idéias próprias.

Porém, se a educação se volta somente para a obtenção de melhores condições de ganho monetário, solapam-se os próprios fundamentos sobre os quais se assenta uma sociedade democrática, que é a base dos regimes modernos.

Tudo está sendo invertido.

Aquilo que estava muito cuidadosa e lentamente sendo cunhado por cidadão, está sendo agora mutilado. Uma parte desta mutilação que, de uma forma sarcástica, pode ser denominada de consumidores, são aqueles que foram mantidos dentro do sistema, são os que têm direitos garantidos não para poder se manter um cidadão, mas sim para se manter um consumidor.

E outra parte do que foi chamado cidadão agora nenhuma denominação específica (nem isso!) recebe. São os que estão fora do sistema; são os que nada têm a perder pois nunca tiveram a oportunidade de lutar por algo. Quando muito lhes é dada a possibilidade de lutar pela vida.

Tanto estes, quanto os consumidores, estão sendo despojados de sua qualidade de humanos. E esse processo de despojamento é realizado pelo Estado, pela sociedade e por cada um de nós. E só poderemos mudar tal situação se trabalharmos a causa que, reiterando, é a inversão de fins, meios e lugares. Caso contrário, como poderemos defender e sustentar de forma razoável que o homem é um fim em si mesmo? E nada disso será válido sem o arroz e o feijão. 

O princípio da igualdade natural permite, porém, que cada cidadão interprete seu direito segundo a relação de forças na sociedade, pois é o governo que serve ao indivíduo e não o contrário. Podemos exigir isso mudando nossa prõpria conduta e um exemplo de conduta serve para mostrar a alguém, alguma conduta desempenhada por outrém. Se pedimos e indicamos o exemplo de conduta que queremos ver, então já sabemos qual é a idéia por trás dele.

Então, por que esperamos o exemplo para só depois começar a agir? Faz isso também parte do show social? Ou deveríamos chamar hipocrisia social? Mesmo assim, alguns ignoram a realidade que preenche os exemplos, defendendo a necessidade de o Estado dar exemplos, "Isso é para os mais pobres que não têm muita educação". No entanto, burrice é confundir o burro com o ignorante.

De qualquer forma, defender que o exemplo é um começo para que depois a sociedade também o faça é um péssimo começo. 

Para melhorar o país não precisamos de exemplos, não precisamos de filantropia. Precisamos de gente capaz de arrancar a máscara da hipocrisia, por vezes já fundida nos rostos de nossos tempos. Precisamos de gente que faça as idéias, e não os exemplos.

Arroz, feijão, saúde, educação e idéias!



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